A gente costuma achar que é quem é.
Como se a nossa essência fosse uma rocha firme, imune aos ventos, às pressões, ao que está em volta.
Mas a verdade é que nós somos moldáveis. E poucos ambientes nos moldam tanto quanto o ambiente de trabalho.
Você pode entrar em uma empresa cheio de entusiasmo, idealismo, com vontade de colaborar, de aprender, de fazer parte. Mas depois de alguns meses — ou anos — cercado de insegurança, cobranças silenciosas, jogos de poder, fofocas, competição disfarçada de produtividade, algo dentro de você começa a mudar.
Talvez você se perceba mais calado.
Mais duro.
Mais preocupado em se proteger do que em contribuir.
E o pior: talvez comece a desconfiar até de si mesmo. Será que sou assim mesmo? Ou será que estou me tornando isso?
Ambientes tóxicos não só drenam a nossa energia… eles nos deformam por dentro.
A gente começa a operar no modo defesa. E o modo defesa, quando é ativado o tempo todo, acaba se tornando o nosso modo padrão.
É a incerteza que corrói.
A instabilidade.
A sensação de que qualquer erro pode custar tudo.
A falta de humanidade nas relações, a pressão por resultados, a falsa meritocracia.
É isso que endurece a gente.
E às vezes o mais difícil não é nem o trabalho em si — mas as pessoas ao redor.
Porque o ambiente não é só um espaço físico.
O ambiente é, sobretudo, feito de gente.
Tem pessoas que tornam tudo mais leve, mesmo quando o cenário é pesado.
E tem outras que tornam tudo insuportável, mesmo quando a tarefa é simples.
A presença de alguém pode fazer você se sentir seguro para errar e aprender… ou apavorado a cada movimento.
Pode fazer você se abrir… ou se fechar.
E quando você passa anos nesse tipo de contexto, é inevitável: você muda.
Nem sempre por escolha.
Às vezes apenas por cansaço.
Eu decidi escrever esse texto porque, por muito tempo, a gente culpou a si mesmo por não estar rendendo, por não estar se sentindo bem, por estar diferente.
Mas e se não for você?
E se for o ambiente?
Existe uma responsabilidade individual, claro.
Mas existe também uma responsabilidade coletiva, estrutural, relacional.
Ambientes doentios geram comportamentos defensivos.
Ambientes abusivos geram sintomas.
Ambientes desumanos geram dor — e a dor molda o comportamento.
Se você sente que está se tornando alguém que não reconhece… talvez não seja sobre você.
Talvez seja sobre onde você está.
📖 Um livro que me ajudou a entender isso tudo
Se esse texto mexeu com você de alguma forma, eu preciso te indicar o livro “Somos Todos Insubstituíveis”, da Lígia Pinheiro.
A autora conta, com muita coragem e vulnerabilidade, a própria trajetória dentro do mundo corporativo. E mostra, sem rodeios, como o ambiente moldou sua forma de ser, de se relacionar, de existir.
Lígia fala das dores silenciosas, das relações que ferem, das violências sutis que a gente normaliza. Mas também fala de encontros que curam, de decisões que libertam, e do poder de lembrar que somos seres humanos antes de sermos profissionais.
Esse livro é uma leitura essencial para quem quer olhar com mais consciência para a vida profissional — e, principalmente, para si mesmo.
Você não está sozinho.
E não é substituível.
Apesar de tudo o que o ambiente tentou te fazer acreditar.
Texto excelente!!
É muito importante entender como o ambiente nos molda, tanto no ambiente empresarial como também em alcançar nosso objetivos de vida.