A Era do Conforto está nos deixando mais fracos?
Vivemos na era da facilidade.
Com poucos toques na tela, temos comida na porta de casa, remédios que prometem aliviar qualquer dor em minutos, atalhos para resolver problemas que, antes, levariam semanas ou meses para serem solucionados.
À primeira vista, isso parece uma vitória.
Mas será que é mesmo?
Ou será que, sem perceber, estamos ficando cada vez mais frágeis justamente porque pulamos etapas que, até pouco tempo atrás, faziam parte do processo natural da vida?
Existem conceitos antigos — e surpreendentemente esquecidos — que mostram o valor da exposição gradual ao desconforto.
Um deles é a mitridização: a prática de ingerir pequenas doses de veneno para desenvolver imunidade.
Outro é a hormese: a ideia de que pequenas doses de estresse, ao invés de nos destruir, nos fortalecem.
Esses processos revelam algo essencial: é o enfrentamento controlado do desconforto que nos torna mais fortes.
Não é evitando o veneno — é aprendendo a lidar com ele.
A própria lógica das vacinas segue esse princípio: introduzimos uma versão atenuada do vírus no corpo para que ele aprenda a se defender.
É o contato com a ameaça, e não a sua ausência, que gera proteção real.
Outro exemplo está no álcool: quanto mais uma pessoa bebe, mais o corpo precisa de doses maiores para produzir o mesmo efeito.
O organismo se adapta, criando tolerância.
Ou seja, ele muda a partir da exposição.
(Não é um bom exemplo para ser seguido como prática, mas é uma metáfora perfeita para entender o funcionamento da adaptação.)
Agora pense: o que acontece com uma geração inteira que evita todo e qualquer desconforto?
Que terceiriza o esforço?
Que busca atalhos para tudo?
Essa geração não se expõe. Não enfrenta.
E, por isso mesmo, não se fortalece.
Cada vez que eliminamos um desconforto do nosso caminho, também eliminamos a oportunidade de criar defesas internas — físicas, emocionais, psicológicas.
É como se, na busca inconsciente por uma vida sem atritos, estivéssemos sabotando a nossa própria capacidade de crescer.
Porque o que nos fortalece não é a ausência de estresse.
O que nos fortalece é o enfrentamento gradual dele.
É a adaptação.
É a capacidade de responder, de ajustar, de se reconstruir melhor do que antes.
E isso não acontece no conforto.
Talvez o maior perigo do nosso tempo não seja a dificuldade.
Seja a facilidade.
A vida que desejamos — forte, autêntica, resiliente — não se constrói nos atalhos.
Se constrói na exposição inteligente ao incômodo, ao erro, à tentativa, ao desconforto que ensina.
Afinal, o que não nos desafia também não nos transforma.
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